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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Quereres


Quis parar de ter em você a razão dos meus antigos dias de sol. A razão das minhas gargalhadas mais gostosas, das palavras doces nos meus poemas, do meu novo visual. Quis não ter apenas as suas velhas cartas para ler, quando a necessidade de ter certeza que um dia fui amado batia mais forte. Quis não ter guardado o frasco vazio do seu perfume adocicado, o anel que selava nosso compromisso e ainda o isqueiro cor-de-rosa que você esqueceu sobre a mesa naquela tarde de domingo.

Quis ainda poder esconder nossas fotos, quem sabe rasgá-las, fazê-las em pedaços e atirar cada fração ao mar. Quis parar de achar seu sorriso o mais bonito e controlar o impulso de te abraçar em cada lugar que te vejo, entrelaçando disfarçadamente os meus dedos aos cachos do seu cabelo. Quis achar que hoje você desafina, mas descobri que aquela nossa canção nunca saiu do tom.

Em momentos como esse quis poder jogar, frustrado, o celular sobre a cama, por não encontrar seu nome na agenda. Quis mesmo, um dia, tirar da memória os oito dígitos que me ligavam a você e me tornavam ainda mais incapaz de te fazer distante.

Quis, e por mais fortes que tenham sido as tentativas, me entreguei ao cansaço e levantei a bandeira branca em sinal de rendição. Só então aprendi a nadar mais uma vez, ainda que frágil. Peixe pequeno desbravando outro mar, menino novo dobrando a esquina rumo ao próximo quarteirão.

Há três anos você faz parte de mim.

Um comentário:

  1. Parece que o querer só fortalece a lembrança, não é verdade?

    Quando a gente esquece que quer, é poque já se esqueceu...

    Lindo texto!

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