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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O café


Você demorou tanto a chegar, que o café que te esperava dentro da xícara sobre a mesa perdeu o calor. Já passavam das 10 e o lanche era às 5. Foi você quem inventou essa história de aos poucos fazer da gente um pouco mais britânicos mesmo sem gostar de chá; mesmo sem saber inglês; mesmo achando a rainha apenas uma senhora fofa e nada mais.

Esperei você enquanto brincava com o pote de biscoitos e lambuzava suas torradas com margarina e geleia, do jeito que você gosta. Sempre desconfiei do seu paladar exótico demais, mas gostava de ouvir suas teorias sobre a mistura das cores e a influência que cada tom tinha em seus dias. De fato, o amarelo da margarina e o vermelho vivo da sua geleia de morango faziam diferença.

Você demorou e eu acabei dormindo ali mesmo, sentado na cadeira, debruçado sobre a mesa. Acordei assustado depois de um sonho confuso e você estava ali, na minha frente, rindo do meu rosto sujo com as torradas lambuzadas que acabaram me servindo de travesseiro. Eu tentei ficar bravo pelo seu atraso, enrugar a testa e levantar sem dizer palavra alguma. Não queria explicações ou desculpas. Só queria você ali tomando café comigo, ainda que frio, ou amargo; ainda que não fosse café.

Sei que amanhã não te esperarei às 5.
Não preciso de hora marcada pra te amar.

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