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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Apenas ruído


Demorei tempo demais para acreditar que o amor fosse, de fato, o sentimento maravilhoso do qual se alimentam os poetas. Talvez por isso tenha demorado a gostar de poesia, das suas rimas, métricas e sentidos que nem sempre me faziam sentir. Ainda não sei se acredito no poder transformador de um sentimento que vira e mexe machuca, pesa no peito e faz doer. Mas, de quando em quando me arrisco, acelero as batidas e esqueço que frear as expectativas nunca é demais.

Certa vez você me disse que o problema vive nas expectativas que criamos, mas nunca podou o nascimento dos planos e dos sonhos, daquela viagem no fim do ano, daquela visita de apresentação ao seu melhor amigo. Demorei até entrar de cabeça nesse futuro que nem ao menos havia nascido, mas que já nos enchia de alegria e orgulho. Nossos sonhos, nossos planos, nossa felicidade.

Mas aos poucos a mão do tempo, tão pequena, passou a escrever nossa história em linhas mal traçadas, ultrapassando espaços, ignorando sinais, se esforçando para interpretar nossa caligrafia já borrada de suor e lágrimas.

Demorei tempo demais para perceber que, talvez, eu não goste mesmo de poesia, do amor em rimas nascidos no peito de alguém. Demorei até entender que os versos do seu peito já não rimavam nós dois. Demorei a concluir que o que nascia aqui no peito já não tinha nome, apenas ruído. E quando um dia tudo se fez clarear, levei algum tempo para compreender que o ruído no peito era barulho da saudade que já incomodava o coração.