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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Quando parti


Quando decidi partir, busquei em mim a coragem que nunca tive, as palavras que nunca disse e a amargura do amontoado de vezes que fiz do silêncio meu escudo. Foi preciso mais do que um abrir de olhos para perceber que o nosso amor havia se tornado mobília velha acumulada no canto do peito. Mudar exigiu de mim mais do que a força necessária para te carregar nos braços todas as vezes que você se entregava ao sono no sofá da sala.

Quando decidi partir, deixei para trás tudo que já não cabia na mala: nossas brigas, a indiferença de tantos dias corridos e o vazio que ecoava em mim e em você. O amor nos deixou órfãos, de olhos inchados e coração endurecido; rasgou os traçados incertos de cada plano e nos obrigou a um adeus prematuro, sem tempo e vontade para um recomeço, um reinventar de nós.

Quando decidi partir, resolvi não olhar para trás. Anulei o pensamento e estanquei a dor no peito com um suspiro. Talvez você tenha me observado seguir pela rua, quem sabe em prantos ou não, quem sabe com alívio no peito, ou ainda se fazendo de forte para depois desabar, assim como eu faria mais tarde no vazio do quarto.

Quando decidi partir, assinei comigo mesmo um contrato de felicidade, incerto, talvez, mas com a liberdade de tentar e tentar sem arrependimentos. Confesso que busquei a liberdade de uma vida a dois, mas entre sete bilhões de possibilidades, por hora resolvi flertar com o que há de mais instigante: a vida.

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